sábado, 1 de setembro de 2012

Quarta semana de corte

Há 4 semanas eu levei um "soco no estômago". Eu caí no precipício.

Naquele dia, que tinha começado bem, com direito a passeio no parque (que eu tanto amo) levei o maior susto da minha vida.
Minhas mãos suaram, minhas mãos ficaram tensas...

Ainda não consegui encontrar esse "chão" que perdi, mas mesmo assim não abandonei o projeto mão.

A mão é o que me dá força. Ela que, muitas vezes me deixou triste, hoje me faz mais forte.

Interessante como as coisas mudam nessa vida e, uma coisinha de nada que só era lembrada quando doía, hoje, é tão importante.

Hoje começa o mês de setembro.
Será que hoje começa uma nova fase da minha vida?

Depois eu conto... depois eu escrevo.

Por hora, mais alguns registros dessa mão que pulsa.

27-08-12
Local: Casa. Espelho.

28-08-12
Local: Trabalho. À espera da van.

29-08-12
Local: Casa. Julgamento dos corruptos.

30-08-12
Local: Casa. Estante com livros do coração.

31-08-12
Local: Varanda. Lua Azul.

Estou tentando colocar nesses registros um pouco da minha vida, das coisas que vivo, das coisas que gosto, das coisas que penso.

Já foram 36 mãos. Ainda nem cheguei na metade. Mas não vou desistir.

domingo, 26 de agosto de 2012

Um mês

Há um mês atrás decidi começar esse projeto.
Muitas pessoas estão acompanhando e comentando por causa do Facebook...É engraçado porque muita gente não está entendendo nada! E é meio isso mesmo! Será que tem alguma coisa pra entender? Pra mim é muito claro, mas como ainda não está completo, fica difícil pras pessoas.

Alguns registros feitos (que ainda não foram colocados aqui).

18-08-12
Local: Em casa. Hora de dormir.

19-08-12
Local: Em casa. Estudando francês.

20-08-12
Local: Em casa. Filmes queridos.

21-08-12
Local: Em casa. Hora do lanche.

22-08-12
Local: Em casa. Facebook.

23-08-12
Local: Em casa. Esconderijo do Scotch.

24-08-12
Local: Em casa. Buzz.

25-08-12
Local: Em casa. Corrigindo provas.

26-08-12
Local: Churrasco na casa do Celião.

Viva a arte!

sábado, 18 de agosto de 2012

23, 14

Esses dias várias pessoas me perguntaram sobre o projeto mão...

Quando falo que é um projeto de arte, alguns não entendem... outros perguntam se eu vou expor em algum lugar.
Bom, se vou expor eu ainda não sei (mesmo porque isso não depende só de mim). Se, quando ele estiver pronto eu gostar do resultado, vou ver se consigo me inscrever em alguma mostra coletiva... Mas por hora, o projeto é meu. É um experimento, uma busca interior.

Alguns acham estranho, outros que estou maluca, outros acham legal, alguns até tiram fotos de mãos e me mandam... Isso tudo me deixa bastante empolgada a continuar.

Mais alguns registros:

13-08-12
Local: Padaria Amanda, fazendo um lanche à tarde (antes do Francês).

14-08-12
Local: Rua Vergueiro, esperando o ônibus 5h30.

15-08-12
Local: Em casa, com Scotch e Jon Snow (livro digital, "crônicas de gelo e fogo : a tormenta de espadas").

16-08-12
Local: Pronto Socorro - em crise respiratória (culpa do tempo seco de São Paulo).

17-08-12
Local: Janela e a noite do Ipiranga.


Ainda não fiz o registro de hoje.
Hoje faz 14 dias de um outro corte... não na mão... mas que também doí.

Cuida da sua mão... passe hidratante, cuide das unhas... Respeite-a! Ela faz muito por você!

domingo, 12 de agosto de 2012

Fechando

O buraco está fechando.
Os movimentos estão voltando.
A dor está sumindo.


Esse projeto começou da minha vontade de fazer arte. Da minha vontade de ser participante e não só observadora passiva. Nesse projeto estou me sentindo viva, pulsando.
Percebi que várias pessoas estão acompanhando as fotos da mão e, inclusive colaborando. Algumas pessoas também tiraram fotos das mãos, ou desenharam mãos ou, pelo menos, olharam para as suas mãos.
Que bom.

Espero que este projeto não acabe na centésima foto. Como disse, tenho a ideia das mãos de idades diferentes e além disso, algumas outras coisas estão na minha cabeça mas ainda não consegui formular direito. O que sei é que vou levar esse projeto a sério. Quem sabe um dia eu não consigo expô-lo em algum lugar... quem sabe.

09-08-12
Local: Ônibus, antes das 6h da manhã.

10-08-12
Local: Bar perto do trabalho.

11-08-12
Local: Carro na Anhanguera.

12-08-12
Local: Beira da piscina do prédio.

E você, já valorizou sua mão hoje?

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Aberto

O buraco não fechou ainda.
Será que vai fechar...
Pelo menos não cresceu muito, continua pequeno... Mas dói e pulsa.

Os movimentos ficaram um pouco comprometidos, mas ainda existem.
O polegar ainda mantém suas funções, apesar da dificuldade.
Está aberto, fundo e feio. Mas está aqui.

A dor do resto está um pouco parecida com a dor do dedo. Dói, dói muito... mas a sensação já foi assimilada.

06-08-12
Local: Padaria.

07-08-12
Local: Escada rolante do metrô.

08-08-12
Local: Casa. Jogo Brasil X Argentina (Olimpíada, quartas de final)

A mão sempre está aqui, comigo... pulsando, doendo... fazendo tanto.

domingo, 5 de agosto de 2012

Dor

Dói.
Dói tanto que penso que vai explodir.
Dói de um jeito que nunca doeu.

O buraco só aumenta...
Pensei que depois de uma noite de sono melhoraria, mas não.
Ainda dói.

Dói tanto que eu nem sei o que fazer.

04-08-12
Local: Piscina.

05-08-12
Local: Chão.

O que ontem era luz, hoje já não é.

Mas a vida continua, a arte continua... apesar da dor.
Que a dor seja uma espécie de combustível para a arte.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Corte

Hoje nasceu um corte no meu polegar.
É curioso porque um corte, para algumas pessoas, é sinônimo de dor, de curativos, de reclamações. Pra mim isso é tão comum que já nem ligo.
Ele tem "só" 0,5cm e está aberto. Já não sangra.
Fico pensando que a "não dor" tem muito mais a ver com o "estar acostumada" do que com o fato de realmente não doer.
Às vezes, a dor chega a dar prazer... parece estranho, mas é isso que me faz cutucar (para sentir a mão pulsando), é o que me faz tirar a pele.
Não acho isso bonito. É bem feio, por sinal. Mas não ligo mais. Antes escondia, agora exponho. Mostro pro mundo minha mão feia, minha mão rejeitada, minha mão com defeito.
A dor pode ser transformada em arte. Quantos já fizeram isso! A arte pode ser terapêutica, pode ser uma válvula de escape.

30-07-12
Local: cozinha (hora de lavar louça).

31-07-12
Local: quarto (hora de dormir).

No dia 1o. de Agosto eu não tirei nenhuma foto. Foi um erro. Tinha planejado fazer um diário da minha mão por 100 dias. Como não consegui, foi um dia cheio de coisas, imprevistos, memórias... deixei passar. E então criei uma outra regra. Nada de fotos no primeiro dia de cada mês.

02-08-12
Local: sala, com Scotch.

03-08-12
Local: estante de livros.

Nessa última foto, a de hoje, é possível ver o tal corte no meu polegar.

Esses dias, no Facebook, alguém comentou que a minha mão, assim, aberta, parece uma espécie de pedido de socorro... Não tinha pensado sobre isso antes. A ideia de fotografar minha mão tem muito mais a ver com a vontade que eu sempre tive de escondê-la. Pensei que deveria fazer o contrário. Mas fiquei com isso na cabeça!
É preciso refletir. É preciso fazer arte.

domingo, 29 de julho de 2012

Um dedo

O que é um dedo?
Um dedo, apenas um dedo.
Um dedo que indica, que cutuca
Um dedo que unha.
Um dedo que dói.
A dor do dedo me corroe.
O dedo pulsa
O dedo treme
O dedo não quer se mecher.
O dedo direito, torto
O dedo de unha torta, morta?
Dói.
Dói e pulsa.
A sensação é que o coração mudou de lugar.
Por quê?
A pele estica.
A pele cora.
A pele parece querer se romper.
A pele quer se abrir e sangrar.
Mas é só um dedo.
Apenas um dedo qualquer.
O meu dedo.
O indicador, que indica a dor.
Que dói.
Que é meu.
Que pulsa.


29-07-12
Local: supermercado.

sábado, 28 de julho de 2012

A mão da América latina

Essa é uma das mãos mais famosas da arte brasileira: a mão da América Latina, de Oscar Niemeyer no Memorial da América Latina - Barra Funda, São Paulo.


"Representa o suor, o sangue e a pobreza que marcaram a história da América Latina tão desarticulada e oprimida. mão de protesto, espalmada, com os dedos abertos em desespero, e o mapa da América Latina a correr sangue até o punho. que este seja um símbolo que ajude a transformar a América Latina num monobloco intocável, capaz de fazê-la independente e feliz". Oscar Niemeyer

Mãos

Registros:
27-07-12
Local: parque do Ipirapuera



28-07-12
Local: sacada de casa


A ideia inicial está dividida em 3 partes:

1. Fazer registros diários da minha mão direita em diferentes locais e condições.
2. Fazer registros de mãos direitas de mulheres de 0 a ? anos. A intenção é conseguir chegar o mais longe possível.
3. Reunir o maior número possível de trabalhos artísticos com esse tema.

Por enquanto é isso. Mas pode mudar... afinal de contas, a arte é viva!

Os trabalhos da mão


Alfredo Bosi
Para a Ecléa

Parece ser próprio do animal simbólico valer-se de uma só parte do seu organismo para exercer funções diversíssimas. A mão sirva de exemplo.
A mão arranca da terra a raiz e a erva, colhe da árvore o fruto, descasca-o, leva-o à boca. A mão apanha o objeto, remove-o, aconchega-o ao corpo, lança-o de si. A mão puxa e empurra, junta e espalha, arrocha e afrouxa, contrai e distende, enrola e desenrola; roça, toca, apalpa, acaricia, belisca, unha, aperta, esbofeteia, esmurra; depois, massageia o músculo dorido.
A mão tacteia com as pontas dos dedos, apalpa e calca com a polpa, raspa, arranha, escarva, escarifica e escarafuncha com as unhas. Com o nó dos dedos, bate.
A mão abre a ferida e a pensa. Eriça o pêlo e o alisa. Entrança e desentrança o cabelo. Enruga e desenruga o papel e o pano. Unge e esconjura, asperge e exorciza.
Acusa com o índex, aplaude com as palmas, protege com a concha. Faz viver alçando o polegar; baixando-o, manda matar.
Mede com o palmo, sopesa com a palma.
Aponta com gestos o eu, o tu, o ele; o aqui, o aí, o ali; o hoje, o ontem, o amanhã; o pouco, o muito, o mais ou menos; o um, o dois, o três, os números até dez e os seus múltiplos e quebrados. O não, o nunca, o nada.
É voz do mudo, é voz do surdo, é leitura do cego.
Faz levantar a voz, amaina o vozerio, impõe silêncio. Saúda o amigo balançando leve ao lado da cabeça e, no mesmo aceno, estira o braço e diz adeus. Urge e manda parar. Traz ao mundo a criança, esgana o inimigo.
Ensaboa a roupa, esfrega, torce, enxágua, estende-a ao sol, recolhe-a dos varais, desfaz-lhe as pregas, dobra-a, guarda-a.

A mão prepara o alimento. Debulha o grão, depela o legume, desfolha a verdura, descama o peixe, depena a ave e a desossa. Limpa. Espreme até extrair o suco. Piloa de punho fechado, corta em quina, mistura, amassa, sova, espalma, enrola, amacia, unta, recobre, enfarinha, entrouxa, enforma, desenforma, polvilha, guarnece, afeita, serve.
A mão joga a bola e apanha, apara e rebate. Soergue-a e deixa-a cair.
A mão faz som: bate na perna e no peito, marca o compasso, percute o tambor e o pandeiro, batuca, estala as asas das castanholas, dedilha as cordas da harpa e do violão, dedilha as teclas do cravo e do piano, empunha o arco do violino e do violoncelo, empunha o tubo das madeiras e dos metais. Os dedos cerram e abrem o caminho do sopro que sai pelos furos da flauta, do clarim e do oboé. A mão rege a orquestra.
A mão, portadora do sagrado. As mãos postas oram, palma contra palma ou entrançados os dedos. Com a mão o fiel se persigna. A mão, doadora do sagrado. A mão mistura o sal à água do batismo e asperge o novo cristão; a mão unge de óleo no crisma, enquanto com a destra o padrinho toca no ombro do afilhado; os noivos estendem as mãos para celebrarem o sacramento do amor e dão-se mutuamente os anulares para receber o anel da aliança; a mão absolve do pecado o penitente; as mãos servem o pão da eucaristia ao comungante; as mãos consagram o novo sacerdote; as mãos levam a extrema-unção ao que vai morrer; e ao morto, a bênção e o voto da paz. In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum.
Para perfazer tantíssimas ações basta-lhe uma breve mas dúctil anatomia: oito ossinhos no pulso, cinco no metacarpo e os dedos com as suas falanges, falanginhas e falangetas.
Mas seria um nunca acabar dizer tudo quanto a mão consegue fazer quando a prolongam e potenciam os instrumentos que o engenho humano foi inventando na sua contradança de precisões e desejos.
A mão lavra a terra há pelo menos oito mil anos, quando começou o Neolítico em várias partes do globo. Com as mãos, desde que criou a agricultura, o homem semeia, poda e colhe. Empunhando o machado e a foice, desbasta a floresta; com a enxada revolve a terra, limpa o mato, abre covas. Com a picareta, escava e desentorroa. Com a pá, estruma. Com o rastelo e o forcado, gradeia, sulca e limpa. Com o regador, água. Desgalha com a faca e o tesourão.
Manejando o cabo dos utensílios de cozinha, o homem pode talhar a carne, trinchar as aves, espetar os alimentos sólidos e conter os líquidos que escoariam pelas juntas das mãos em concha.
Morar é possível porque mãos firmes de pele dura amassam o barro, empilham pedras, atam bambus, assentam tijolos, aprumam o fio, trançam ripas, diluem a cal virgem, moldam o concreto, argamassam juntas, desempenam o reboco, armam o madeirame, cobrem com telha, goivo ou sapé, pregam ripas no forro, pregam tábuas no assoalho, rejuntam azulejos, abrem portas, recortam janelas, chumbam batentes, dão à pintura a última demão.
A mão do oleiro leva o barro ao fogo: tijolo. A mão do vidreiro faz a bolha de areia, e do sopro nasce o cristal.
A mão da mulher tem olheiros nas pontas dos dedos: risca o pano, enfia a agulha, costura, alinhava, pesponta, chuleia, cerze, caseia. Prende o tecido nos aros do bastidor: e tece e urde e borda.
A mão do lenhador brande o machado e racha o tronco. Vem o carpinteiro e da lenha faz o lenho: raspa e desbasta com a plaina, apara com o formão, alisa e desempena com a lixa, penetra com a cunha, corta com a serra, entalha com a talhadeira, boleia com o torno, crava pregos com o martelo, marcheta com as tachas, encera e lustra com o feltro.
O ferreiro malha o ferro na bigorna, com o fogo o funde, com o cobre o solda, com a broca o fura, com a lima o rói, com a tenaz o enverga, torce e arrebita.
O gravador entalha e chanfra com o cinzel, pule com o buril. O ourives lapida com o diamante, corta com o cinzel, afina com o buril, engasta com a pinça, apura com o esmeril.
O escultor corta e lavra com o escopro e o formão.
O pintor, lápis ou pincel na mão, risca, rabisca, alinha, enquadra, traça, esboça, debuxa, mancha, pincela, pontilha, empastela, retoca, remata.
O escritor garatuja, rascunha, escreve, reescreve, rasura, emenda, cancela, apaga.
Na Idade da Máquina, a mão teria, por acaso, perdido as finíssimas articulações com que se casava às saliências e reentrâncias da matéria? O artesanato, por força, recua ou decai, e as mãos manobram nas linhas de montagem à distância de seus produtos. Pressionam botões, acionam manivelas, ligam e desligam chaves, puxam e empurram alavancas, controlam painéis, cedendo à máquina tarefas que outrora lhes cabiam. A máquina, dócil e por isso violenta, cumpre exata o que lhe mandam fazer; mas, se poupa o músculo do operário, também sabe cobrar exigindo que vele junto a ela sem cessar; se não, decepa dedos distraídos. Foram oito milhões os acidentes de trabalho só no Brasil de 1975.

(estudo de Pablo Picasso)

IN: BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos.São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 468-471.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O início

A arte sempre fez parte de mim. Quando criança diziam que eu tinha "dotes" artísticos, principalmente porque tinha "jeito" com as mãos e sabia fazer trabalhos manuais: desenhava e pintava bem para uma criança (do ponto de vista de alguém que acha que a arte deve ser sempre bela e tradicional). Mas eu não queria ser artista.
O belo, na verdade, me incomodava um pouco. Não gostava de ter a letra "bonitinha", toda redondinha e super legível. Gostava mais das letras dos colegas que eram mais selvagens, tortas. Nunca gostei dos meus desenhos, que sempre eram bonitinhos demais. Então fui navegar por outras áreas. Primeiro veio a dança... O ballet clássico me fascinava (e fascina ainda hoje) e fui descobrir dançando que na verdade eu não desgostava do belo, mas não sabia muito bem como inserí-lo em minha vida. Não me achava bonita, nunca tive facilidade pra estar naturalmente bonita. Mas o ballet deve mostrar a beleza do gesto... Mais uma vez resolvi mudar de área. Fui passear pelo teatro. Essa linguagem mexeu demais em mim. Minha graduação foi em artes cênicas e, também fiz curso técnico de formação de atores. Sonhei em ser atriz, mas depois de um tempo percebi que o palco não era exatamente meu lugar. Nessa fase eu já tinha conseguido entender melhor a importância do belo em minha vida e, pra mim, o belo de verdade, o que eu sabia fazer, não era exatamente estético. Pra mim, belo era estar em contato com as pessoas, falando daquilo que eu aprendi a amar, mostrando, gerando dúvidas, questionamentos... Belo era estar na sala de aula com meus alunos. Belo era ser aquilo que eu me tornei: professora.
Nesse momento a letra bonitinha e redondinha ajudou (se bem que às vezes ela dá lugar à traços mais livres - dos quais eu me orgulho muito - e meus alunos, certamente têm raiva!).
Me tornei professora de arte. Da arte que me formou como pessoa, como cidadã, como mulher. Não poderia ter sido diferente!
Só que depois de anos e anos lutando contra algo que tinha nascido na minha infância, resolvi dar asas aos meus impulsos artísticos. Resolvi, impulsionada por estudos sobre artistas contemporâneos, sobre leituras e, sobretudo por um curso que fiz com o educativo da Bienal, criar esse projeto: o projeto MÃO.
A menina que fugia do rótulo artista, que flertou com diversas linguagens artísticas, que se tornou mulher, que ganha a vida falando de arte, vai fazer ARTE.
Isso parece ter um peso imenso. Parece um peso maior do que eu posso suportar... mas vou fazer.


Por que MÃO?
Como já comentei, desde criança fui rotulada de ter "jeito" pra trabalhos manuais. Mas, por ironia do destino, talvez, desde 1996 desenvolvi uma alergia bem na minha mão direita - a mão que uso pra praticamente tudo (já que sou destra).
O meu problema não tem cura. Já fiz muitos tratamentos, consultei muitos médicos, já tomei muitos remédios diferentes, passei muitas pomadas e cremes diferentes... Já fiz muitos exames. A conclusão que os médicos chegaram foi que eu preciso conviver com isso. Hoje posso dizer que aprendi a conviver, mas não posso dizer que consigo esquecer.
Minha alergia piora com alguns fatores: muito pó, estresse, contato com algumas coisas (latex, por exemplo... o que torna minha vida um pouco difícil, já que a maior parte das coisas inventadas para proteger as mãos são feitas desse material), frio... O fator mais determinante é psicológico: quando estou bem ela melhora, quando estou triste ou nervosa, piora.
O que acontece na prática?
Minha mão direita, quando está em crise aguda, fica vermelha, a pele chega a rasgar provocando sangramentos, os movimentos dos dedos ficam comprometidos e perco minhas impressões digitais (além de ficar feio pra caramba). Normal, normal ela nunca mais ficou. Guardo algumas marcas disso mesmo quando ela está ótima - uma coisa é a deformação que "ganhei" nas unhas do polegar e do indicador. Além disso, a mão direita parece mais velha que a esquerda.

O problema não me impede de fazer as tarefas simples do dia a dia. Não tenho, por exemplo, nenhuma dificuldade em escrever (seja assim, no computador ou usando objetos próprios). A lousa, por exemplo, não chega a ser um problema. Não tenho alergia ao giz - mas se ela está mal, o giz agrava (por deixar a mão muito seca). A dificuldade em fazer as tarefas simples só existe em momentos de crise aguda.

A intenção desse projeto não é ficar expondo minha dor e nem fazer com que alguém tenha pena de mim por ter esse problema. Minha intenção é simplesmente olhar pra ela com outros olhos. Olhar para a  mão que tanto desprezei ao longo de anos... que é a mesma mão que me ajuda tanto. Olhar para ela não como um problema, mas como uma fonte inspiradora para ARTE.